A primeira coisa que você precisa entender é que comparar os serviços públicos de um país com o de outro pode ser o caminho perfeito para uma grande confusão e para uma falsa percepção do que é um serviço de qualidade.
A minha primeira dica então é: se você já está em Portugal e engravidou e não tem previsão de voltar para o Brasil, encare o sistema nacional de saúde português como sua opção ( ou vá ao privado, particular).
Se você está no Brasil e já está grávida, avalie questões como documentação, transferência da sua vida pessoal como mamãe ( e papai) para Portugal, adaptação pessoal e outras questões.
Vou te contar então a minha experiência e dela você pesa o que é melhor na sua vida e qual a melhor decisão para a sua realidade, ok?
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O ATENDIMENTO PÚBLICO EM PORTUGAL: PANORAMA GERAL
Se você acompanha qualquer jornal nacional ou internacional está ciente da situação dos próprios portugueses quando o assunto é médico de família.
Faltam médicos nos centros de saúde, os enfermeiros vivem em greve. A situação da saúde em Portugal anda na corda bamba e isso é impossível de negar.
Conheço portugueses que nunca tiveram médico de família e outros que estão a 4, 5 anos na lista de espera.
O médico de família é atribuído de acordo com a zona em que você mora. Normalmente, nas pequenas cidades há apenas um centro da saúde para cada zona. Em outras cidades maiores podem existir um ou dois centros. Mesmo assim, não há médico de família para muita gente.
O que aconteceu comigo? Meu registro de utente (usuário) foi feito em Leiria, quando ainda morava lá. A cidade é menor e logo eu era atendida num determinado centro de saúde de acordo com a zona em que eu morava. Aparentemente simples!
Quando era uma emergência, eu ia direto a hospital, pagava a taxa moderadora (que varia muito de acordo com os procedimentos e exames que você vá fazer) e quando era uma consulta de rotina ia ao centro de saúde nos dias em que a médica estava lá, que não eram todos!
Chegava cedo, passava metade do dia, era atendida e se precisasse fazer algum exame pegava uma guia do público e ia até um laboratório local e fazia o exame pagando também uma taxa. Pode variar de 5 a 200 euros. Depende do exame.
Quando mudei minha residência para Lisboa e me casei, a situação ficou caótica.
Meu esposo tem um médico de família há muitos anos, desde a infância. E nesse centro de saúde onde ele é atendido há lista de espera por um médico. Ninguém é atribuído a médico nenhum nesse centro! E mesmo o nosso endereço sendo igual, fui encaminhada para outro centro de saúde.
E estando grávida ou após o nascimento? Eu continuarei no centro de saúde a que fui atribuída e minha filha ficará com o pai no centro de saúde dele. Ou seja, um médico de família que atende metade da família! Rir para não chorar!
CONSULTAS E EXAMES PARA GRÁVIDA
A saúde materna em Portugal tem recebido muitos elogios. E eu concordo em muitos aspectos.
No início foi muito complicado conseguir ser acompanhada regularmente. Depois que consegui, aí sim experimentei a qualidade e praticidade que é fazer exames e ir às consultas.
Então como você conseguiu, Sabrina? Primeira coisa: passei praticamente um mês brigando de um centro de saúde para o outro. Quando eu falo brigando, foi brigando mesmo.
O Centro de saúde pra onde fui encaminhada estava em obra, passando por reformas. Havia material espalhado pelos corredores, poeira, pó. A atendente fechava a porta na cara da gente, era uma confusão com senhas. Caótico! Não tem outra palavra.
Eu comecei meu atendimento em um consultório privado. Cada consulta custava cerca de 100 euros a primeira com direito a uma ecografia ( ultrassom) e as segundas custavam 80. ( E foi das mais baratas que encontrei).
Isso sem o seguro militar que eu tenho direito pelo meu marido. Como o seguro ainda não tinha chegado, pagava o valor integral.
O grande problema foi que os exames pelo público são 100% gratuitos. As grávidas em Portugal não pagam absolutamente taxa moderadora nenhuma em nenhum procedimento de saúde. E até dentista conseguem gratuitamente pela maternidade. E dentista em Portugal é caro.
Sendo acompanhada no particular e em gravidez de risco, eu teria que viver arcando com todos o exames do meu bolso também. Não rolava, embora eu adorasse a médica do particular.
A primeira bateria de exames ficou em 600 euros, sem seguro militar e sem a cobertura do sistema público de saúde. Não há necessidade né!? Então fui de vez para o público.
CONSEGUINDO O NÚMERO DE UTENTE
Essa tem sido a novela de muitos brasileiros e estrangeiros que chegam em Portugal.
O Número de utente nada mais é do que um código único, um número atribuído a você, que te identifica no sistema nacional de saúde. Só que para ser registrado você vai precisar de ( pelo menos foi o que me pediram):
- Comprovante de moradia da junta de freguesia ( por aqui eles vão identificar sua morada fiscal e em qual o centro de saúde que você vai ser colocado);
- Documento que prova sua legalização no país ( visto, residência , etc);
- Número de contribuinte ( caso sua residência seja de trabalho).
A grade confusão mora exatamente aqui. Cada centro de saúde pede um documento ou deixa de pedir outro. Por via das dúvidas leve tudo!
Quem contribui, ou seja, faz descontos do salário todos os meses, tem direito como um nacional pois está descontando para o estado. Quem não faz e é estudante, como foi o meu caso na primeira vez em que estive em Portugal, precisa apresentar um seguro de saúde.
Para brasileiros que vem para Portugal em turismo ou estudo, o ministério da saúde brasileiro oferece o PB4. Ele tem outro nome formal, mas é conhecido assim.
Através dele, você vai pagar as taxas moderadoras como um nacional e não o valor total.
Se você não tem o PB4, sinceramente eu não sei o que vai te acontecer. Muita gente não tem conseguido se registrar e conseguir o número de utente em centros de saúde.
Se você não está legalizado no país ainda, você pode ter sérios problemas para se registrar. Em muitos centros de saúde, eles tem se recusado a registrar imigrantes sem documentação. Mesmo que com agendamento do SEF para manifestação de interesse para legalização.
Ouço histórias de quem consegue, ouço histórias de que não consegue. Estando grávida, vai querer arriscar?
Se é uma gripe, uma doença passageira algo que com uma, duas consultas você resolve, você vai ao hospital, paga a taxa moderador inteira ( vi a alguns dias uma mãe dizendo que pagou 85 euros só para um diagnostico de pneumonia porque ainda não tinha documento e porque não tinha seguro nenhum) e está resolvido.
Como você fará para ser acompanhada durante 9 meses? Se tiver dinheiro para o particular e para os exames, Ok. Se não, porque sai muito caro, reavalie se imigrar para Portugal grávida ou se terminar a gravidez aqui será uma boa opção.
No final, acredito que vão te dar o utente pelo menos para a gravidez. Duvido que em um caso extremo, te deixem sem médico. Mas quais argumentos você vai usar e qual o nível de stress sua gravidez vai ter com tudo isso?
(Se existirem mais de um centro de saúde na sua zona, vá a um deles e pergunte em qual você será atendido).
ROTINA
Após conseguir o número de utente você precisa sinalizar que é uma consulta para saúde materna. E que está grávida.
Por que? Se você não falar nada, vão te encaminhar para lista de pacientes que estão aguardando um médico de família e precisam de uma consulta de rotina. E isso pode demorar 2, 4 meses numa grande cidade como Lisboa.
Então quando for pedir o utente, já sinaliza que está grávida e se já tiver um exame de sangue que prove isso, leve.
No meu caso foram 3 idas ao centro de saúde para conseguir uma médica definitivamente. Só consegui mesmo uma médica após conversar com a responsável do centro de saúde e explicar para ela que o tempo estava passando e que eu estava ficando sem tempo de fazer alguns exames indispensáveis para a gravidez.
E infelizmente eu só consegui, quando o maridão foi comigo e disse que era português, que precisa de um médico para a filha dele. ( Não vou entrar nesse assunto polêmico hoje, ainda não!).
DICA DE OURO
Se você está com dúvida que está grávida ou sabe, vá o serviço de emergência da Maternidade Alfredo da Costa em Lisboa e diga que quer fazer um exame porque acredita que está grávida. Tirando a dúvida e dando positivo, peça um médico para a acompanhar já na maternidade, lá dentro.
Explique que não tem médico e tente uma ajuda lá mesmo.
Na maternidade só são seguidas as grávidas que vieram encaminhadas de uma médica de família. Foi o que aconteceu comigo.
Como eu tive uma gravidez de risco no início e muitos dos exames ficaram atrasados, a médica do centro de saúde pediu um exame de urgência na maternidade. Quando fiz o exame, passei por uma médica interna do setor de alto risco e de lá nunca mais sai.
A médica do alto risco quis me seguir e eu não voltei mais a médica de família porque passei a ser seguida na maternidade.
Quando preciso de uma consulta para mim, continuo indo a médica de família. Nessa questão nada mudou, até porque consegui a médica de família com muita sorte. Trocaram todo o quadro de médicos do centro onde fui colocada e estando grávida, me atribuíram a médica com prioridade.
À partir do momento que consegui a médica da maternidade, tudo correu de uma maneira maravilhosa.
Volto pelo menos 2 vezes por mês à consulta, fiz todos os exames na própria maternidade gratuitamente, inclusive o exame de diabetes gestacional ( aquele horrível que você bebe um líquido doce e não pode vomitar argghh).
Na maternidade tive problema apenas com uma médica, que demonstrou muito preconceito com o fato de eu ser brasileira e falou com o meu marido que ele ficasse de olho em mim que eu estava dando qualquer tipo de golpe nele.
Sai do consultório incrédula. Mas nunca mais voltei nela, graças a Deus pude ser seguida por outra.
Na maternidade há curso de preparação pré-parto e que eu adoro, com profissionais do próprio hospital: fisioterapeutas, anestesista, enfermeiras etc. Além da psicologa, que foi uma indicação da médica que me segue. Isso sem custo nenhum.
Um curso de preparação pré-parto em um hospital particular custo em torno de 200, 300 euros.
Na Maternidade Alfredo da Costa há também consultas com nutricionista, assistência social e outros auxílios que no particular custam bem caro. Converse com a médica e pergunte sobre a possibilidade dela te encaminhar para esses serviços. Comigo foi muito simples, cheguei lá e marquei.
Quanto ao parto? Ainda não posso te contar. Mas está quase.
Tudo que te contei aqui foi a minha experiência e ela pode mudar de pessoa para pessoa. Então não tome o que eu te disse como regra. Mas como exemplo ok?
Recapitulando:
- Peça o número de utente ( Atenção aos documentos necessário!)
- Ateste que está grávida ( Leve um exame de sangue ou peça para fazer!)
- Solicite um médico de família ou informe ao seu que está grávida e precisa ser seguida pela saúde materna
- Se possível peça para ser seguida na maternidade Alfredo da Costa
- Faça o curso pré-parto ( As incrições precisam ser feitas até as 26 semanas para dar tempo de acabar o curso antes do parto)
- Se precisar de auxílios extras como nutricionista por motivos de saúde, piscologo, auxilio sociais conte a sua médica, explique a situação e peça.
Não tenha medo de perguntar as dúvidas que pareçam extremamente estúpidas. Nenhuma dúvida é estúpida quando o bem estar e saúde de um bebê e de uma mamãe estão em risco, tá bom? Médico é para isso. E se achar que o médico não foi justo ou desconfiar de algum diagnóstico, peça uma segunda opinião. Você tem direito!
Tem alguma dúvida? Quer me perguntar alguma coisa? Conta para gente que a gente te ajuda 🙂
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